Sempre quis fazer voluntariado fora de Portugal, sei que há muito para fazer no nosso país, mas sair daqui, conhecer outros países, outra realidade e defrontar-me com o desconhecido é algo que gosto de fazer..no fundo colocar-me à prova..aquele medo miudinho, aquela ânsia de enfrentar tudo isto sozinha, sem conhecer ninguém e sem saber com o que contar é um sentimento inexplicável..
Tudo começou em 2011.
Desde há muito tempo que queria fazer algo pelo outros, sair da minha zona de conforto e ir à aventura..um sitio onde não conheço ninguém, não falam a minha lingua e sem conhecer a ONG. Pode-se considerar um ato um pouco irresponsável, mas tinha que ser. Os meus pais como devem imaginar estavam "doentes" comigo e com a minha atitude "irresponsável"..mas sendo maior de idade, com trabalho para me sustentar e sustentar esta minha loucura, nada podiam fazer, exceto "melgar" o meu juízo até ao dia do adeus!.
E assim foi, no dia 11 de fevereiro em plena madrugada fui para o aeroporto e só regressaria daí a um mês. Paguei a viagem, dei uma comparticipação para ajudar a instituição e pus-me a caminho. Lembro-me de estar no avião a questionar a minha decisão, a ponderar bem o meu ato de loucura..tinha medo, queria voltar para trás, mas era tarde demais. Não podia regressar e dar a parte fraca..o dinheiro investido, o bem que ia fazer àquela população era algo que não podia simplesmente esquecer...vamos a isto!
Quando aterrei em Nairobi era de noite, estava escuro, estava completamente excitada e ao mesmo tempo aterrorizada. Quem ia estar à minha espera? Para onde ia? Onde ia dormir? Como eram as pessoas? As crianças? O que é ia lá fazer? Tantas perguntas e poucas respostas. Sabia que ia fazer vários trabalhos diferentes para ajudar aquele país e crianças desfavorecidas..mas no fundo, o que é que isso significava?
Quando saí do aerorporto lá estavam eles..3 pessoas à minha espera. Dois rapazes e uma rapariga. Todos novos, sendo que a rapariga era a mais velha, com no máximo 40 anos. Lembro de ter ficado a a olhar para os 3, não sei quanto tempo mas pareceu uma eternidade e eles a olhar para mim. A rapariga era baixinha, tinha um pano na cabeça e tinha um aspecto de quem já andava naquela vida de solidariedade há bastante tempo e para meu espanto falava português. O rapaz mais velho, que era de cor, tinha um aspecto super dócil e um sorriso lindo e sem igual..ainda hoje me recordo daquele sorriso com carinho e ternura. Ele era o responsável pelas crianças e tinha no máximo 35 anos. Falava um pouco português mas a língua predominante era o inglês. Depois vi-o a ele, um tuga do norte, asneirento e com a mania que tinha piada.
Vi que tinham um papel com o meu nome, pelo que, dirigi-me até eles. Cumprimentei-os e rapidamente fomos para o jipe que estava estacionado no parque. A longa viagem até à casa onde ia ficar deu para nos conhecermos um pouco mais.. eles os 3 davam-se muito bem, notava-se que todos eles já ali estavam há bastante tempo e por isso havia uma cumplicidade muito boa. Antes de mim, já tinham lá estado vários voluntários e todas as crianças estavam ansiosas por me conhecer..queria saber quem era a "nova" voluntária que ia chegar..Todas as crianças estavam na escola, sendo que, o mais velho tinha 15 anos e a mais nova 4 anos.
Após percorrermos uma estrada de terra batida, com vários buracos e com vegetação dos 2 lados chegámos a um portão com cor de tijolo..o carro parou e o rapaz saiu para ir abrir o portão com as mãos. Só me lembro de pensar "O que me espera do outro lado? Como iria correr este mês? Será que as crianças iam gostar de mim? Será que iria conseguir ajudar e fazer a diferença na vida daquelas crianças e daquele país?"
Tantas perguntas... até que o portão abriu-se...
...e a minha vida mudou!
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